quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Nostalgia



Saudades. Saudades das tardes dos primeiros anos vendo filmes e mais filmes com minha mãe. Saudades da notícia da visita de minha avó significar que eu ganharia presentes. Saudades de pescar com meu pai e de caçar vaga-lumes com meus primos que puxam o “X”. Saudades de fazer da lavanderia meu playground e de imitar os filmes e os desenhos. Saudades de brincar de casinha. Saudades de brincar com minhas Barbies e simular seus diálogos telepaticamente. Saudades de ter medo do Boi-da-Cara-Preta. Saudades de brincar de gato mia. Saudades de lavar o banheiro de biquíni com minha irmã e mais brincar com a água e sabão do que lavar. Saudades dos meus aniversários e dos salgados, doces, sorvetes, pula-pula e enfeites. Saudades da líder da turma. Saudades da patricinha e de suas seguidoras – e de ser uma seguidora. Saudades de brincar de amigo invisível. Saudade de comer formigas e de crer que isto faria bem para as vistas. Saudades da sensação de decepção por ter de colocar óculos e porque as formigas me traíram. Saudades de puxar o cabelo dos meninos e isso ser o mais próximo de um “eu gosto de você”. Saudade da banda da quarta série, dos ensaios e do detalhe que ensaiávamos todos os dias e ninguém sabia tocar nada. Saudades da minha Fada, da minha Duende. Saudades da mais inteligente do trio. Saudades dos dois trios. Saudades da pessoa que era o ponto em comum nos dois trios. Saudades do sítio. Saudades da piscina do sítio, da churrasqueira, até da sinuca. Saudades de ficar jogando cartas desde depois do almoço até de madrugada. Saudades de escalar barrancos, de enfiar dentro do mato, de nadar no riacho, de jogar no campinho, de brincar de espiã, de adotar e nomear os pintinhos, de fazer enterros para os pintinhos, de criar esconderijos, de correr das cabritas, até de quando as cabritas comiam nossas roupas. Saudades de ter, no mínimo, três picadas de marimbondos que rodeavam a piscina e de sair correndo e chorando para meu avô. Saudades do meu avô. Saudades da primeira vez que andei de ônibus sozinha, quando temi entrar no ônibus errado ou me atrasar, portanto saí uma hora e meio mais cedo, deixei passar três ônibus até que eu me toquei que só passava um ônibus na rua; quando me virei para olhar na esquina e percebi que meu irmão me vigiava o tempo todo. Saudades dos balões nos meus aniversários. Saudades dos meus mangás e de desenhar. Saudades de sair de casa duas horas mais cedo que o horário de aula para ir à escola. Saudades de visitar minha avó e dela me mimar com batatas-fritas e minhas outras comidas preferidas. Saudades de viajar em todas as férias. Saudades dos sons dos pássaros. Saudades de fazer judô, ginástica olímpica, natação, diversos cursos, aula de inglês e até de japonês e não completar nenhum. Saudades de quando eu era chorona e extravasava minhas dores com a maior facilidade. Saudades do sótão e até mesmo de sua poeira. Saudades de ir à padaria só de pijamas e não sentir vergonha nenhuma disto. Saudades de morar a cinco casas da Fada. Saudades da mão da paulista do trio que era capaz de me afastar de todo mal. Saudades do meu cavalo e do meu orgulho dele ter sido o primeiro resultado de uma conquista minha e não um presente de meus pais originado por um capricho.

E olhe que o que eu listei aqui foi só até meus 14 anos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011



Olá,
O calor tornou-se insuportável. Se você estivesse aqui iria estar se queixando, isso é certo.
É sempre assim, não é? Quando não sabemos o que falar, falamos do tempo. Do tempo como clima, não do tempo de horas, dias, semanas...
Mas, se for para falar deste tipo de tempo, estas palavras vão ficar muito açucaradas, do jeitinho que você não gosta.
Então falemos sobre física. Mas daí eu voltarei a falar de tempo, mais exatamente sobre a relatividade do tempo: como o tempo passa arrastado quando você não está aqui.
Açúcar de novo, não é? Então falemos de outra física: o contato físico e o meu desejo de ter o teu contato. Mais açúcar...
O oposto de açúcar é o sal, falemos de sal. Pensei em suor, em calor, em tempo e em física.
Desculpa, não sei ser sem açúcar.
Olhe que engraçado: quando alguém é sem sal é porque não é bonito; quando alguém é sem açúcar é porque não é romântico. Então, qual é o melhor sabor para alguém ser?
Particularmente eu prefiro pessoas salgadas e açucaradas, segundo esse raciocínio.
Certo, minha carta não foi tão doce, não devo ter arrancado lágrimas salgadas de ti.
Perdão pela minha incapacidade de escrita.
Eu poderia até dizer o que sinto, mas você sabe e seria o ponto máximo de açúcar.